Nota de alunos cotistas se equipara à de não cotistas ao longo do curso
GONÇALO JUNIOR CONTEÚDO PRODUZIDO EM PARCERIA COM OS COLETIVOS POLINEGRA, DA USP, E UNICAMP BLACK, DA UNICAMP
Conclusão é semelhante em diversas pesquisas realizadas em universidades estaduais e federais brasileiras.
Estudos são unânimes em apontar que, no início, estudantes que ingressam no curso por cotas têm desempenho pior, mas, no final, ele é semelhante ao dos demais
As notas dos alunos cotistas, que ingressam no ensino superior em vagas reservadas para negros, pobres e indígenas, são, no final do curso, equivalentes às dos demais estudantes. É o que concluem várias pesquisas em universidades estaduais e federais do País. Os dados refutam o argumento dos críticos das cotas de que as deficiências da educação básica causam desnivelamento entre alunos, comprometendo a excelência do ensino superior.
O artigo Ação afirmativa baseada na raça e no rendimento nas admissões ao ensino superior: lições da experiência brasileira analisou 53 pesquisas sobre o desempenho dos cotistas no Brasil na última década.
O estudo, publicado em maio no Journal Economic Surveys, mostra que, nos testes de entrada, os alunos cotistas tiram notas menores que os não cotistas, principalmente nas áreas de Exatas e Tecnológicas, mas as diferenças são reduzidas ao longo da universidade. “A diferença de desempenho entre os dois grupos não desaparece totalmente, mas as notas convergem no final do curso”, diz o professor Rodrigo Zeidan, da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral, autor do estudo ao lado dos pesquisadores Silvio Almeida, hoje ministro dos Direitos Humanos, Inácio Bó, da Universidade de Macau, e Neil Lewis Jr., da Cornell University.
O resultado do estudo surpreendeu Zeidan. “Porque (os dados) configuram um consenso científico, com baixo nível de discordância entre os estudos analisados. Pouquíssimos estudos identificaram um desempenho acadêmico ruim dos alunos cotistas.” Outros estudos chegaram à mesma conclusão. No início do programa de cotas da USP, no 1.º semestre de 2018, a distância máxima entre
SURPRESA.
os oriundos de escolas públicas e os de particulares foi de 1,2 ponto na mediana das notas, o ponto central de cada grupo (50% dos alunos estão acima dessa marca e os outros 50%, abaixo). Já no 2.º semestre de 2019, ou seja, no último boletim pré-pandemia, a distância havia sido reduzida para 0,9 ponto na média.
Nos cursos mais concorridos, a distância de notas entre cada grupo é um pouco maior do que nos menos concorridos, mas, em ambos, cai ao longo
do curso, segundo o estudo Ações Afirmativas no Ensino Superior Brasileiro, do Centro de Estudos da Metrópole, ligado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Ao longo de quatro anos, a pesquisa avaliou cerca de 11 mil alunos da primeira turma desde a implementação da política de cotas.
“Este estudo mostra que as ações afirmativas não comprometem a excelência acadêmica”, diz a coordenadora da pesquisa e professora da FFLCH,
Marta Arretche.
Conclusões semelhantes foram observadas pelo professor e doutorando Caio Vinicius Silva na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Estado em que a população é predominantemente negra e a única do País com maior número de autodeclarados pretos do que brancos – 22,5% e 18,7%, nesta ordem, segundo o IBGE. No estudo Políticas de cotas na UFBA, uma investigação sobre o desempenho acadêmico de estudantes cotistas e não-cotistas (20052019), Silva conclui que o comprometimento da excelência acadêmica pelos cotistas não passou de uma suposição.
No estudo, ele se debruçou sobre a área de Ciências Físicas, Matemática e Tecnologia, que tem maior diferença de desempenho entre cotistas e não cotistas no início do curso. Entre o primeiro semestre de 2014 e o segundo semestre de 2019, os não cotistas possuem cerca de 59 pontos a mais do que os cotistas. No mesmo período, as notas finais, calculadas por meio do Coeficiente de Rendimento (CR) dos graduados, mostram que a diferença era de apenas 0,1 ponto a favor do não cotistas (7,5 a 7,4). No período, foram matriculados 6.821 estudantes nessa área. Destes, 3.034 (44,5%) são cotistas e 3.787 (55,5%) são não cotistas.
Estudo analisou um total de 53 pesquisas sobre desempenho dos cotistas no Brasil na última década
UNANIMIDADE. As razões que levam os cotistas a evoluir na graduação merecem mais pesquisas, mas os estudiosos são unânimes ao afirmar que eles são alunos de destaque em seus grupos de origem. “Quando têm acesso a uma estrutura melhor, conseguem desenvolver e produzir conhecimento para reduzir ou superar as diferenças iniciais de desempenho”, diz o professor Silva.
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2023-10-19T07:00:00.0000000Z
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